CONSTRUÇÃO E MATERIAIS: DA RECESSÃO DE 2015 ÀS PERSPECTIVAS PÓS-ELEITORAIS

Em meio aos ruídos e vieses das instituições brasileiras, restam os números, que podem proporcionar, na perspectiva econômica, alguma luz ao caos no qual estamos mergulhados.

Sob esse aspecto, para começarmos, nos apoiaremos nos dados do Produto Interno Bruto (PIB), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Nos últimos dois anos do governo Dilma Rousseff, a recessão de 2016/2015 proporcionou o encolhimento acumulado de 6,7% do PIB brasileiro (sobre o ano de 2014). Para se ter uma ideia do que isso significa, segundo o próprio IBGE, na Séries Históricas Estatísticas do Século XX , na crise econômica de 1929 (a maior do capitalismo moderno), o Brasil encolheu “apenas” estimados 5,3%, no acumulado de 1931/1930 (sobre o ano de 1929).

O montante das perdas da crise mais recente foi de tal magnitude, que mesmo ao final de 2021, o País ainda não a havia superado, permanecendo 2,1% abaixo do ano de 2014.

A boa notícia é que, caso a mais recente previsão do PIB 2022 do Boletim Focus do Banco Central do Brasil (BCB) se concretize, com crescimento de 2,7%, finalmente a superaremos, com crescimento no acumulado dos comparativos “ano anterior” de 2022 a 2015 de 0,5% (sobre o ano de 2014).

Porém, nada se compara às perdas do PIB da área de atividade Construção (na ótica da oferta, fundamentalmente, engloba todos os agentes da cadeia que atuam direta ou indiretamente em obras de infraestrutura e/ou construções residenciais, comerciais, entre outras).

Nessa área de atividade não houve recessão, mas depressão, com um encolhimento de 27,9%, no acumulado dos comparativos “acumulado ano” de 2018 a 2015 (sobre o ano de 2014). Assim, o PIB Construção, ao final de 2021, estava ainda 24,4% abaixo do ano de 2014.

Num recente Informe Econômico da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), é estimado crescimento de 3,5%, em 2022, contribuindo, assim, para o ainda longo caminho de recuperação.

E, se o estrago no PIB Construção levará anos para ser consertado, o comércio de materiais de construção brasileiro, ao menos, se recuperou mais rapidamente.

Segundo, agora, a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), também do IBGE, a recessão de 2016/2015 proporcionou o encolhimento acumulado de 18,2%, no faturamento real do comércio de materiais de construção (em volume de vendas/ faturamento nominal deflacionado, sobre o ano de 2014).

Porém, diferente do PIB Brasil e da Construção, e graças ao boom de consumo oriundo, fundamentalmente, da conjugação do “fique em casa” e Auxílio Emergencial, o comércio do segmento se recuperou, crescendo 11,4%, no acumulado dos comparativos “ano anterior” de 2021 a 2015 (sobre o ano de 2014).

Segundo as mais recentes projeções estatísticas Best Forecast e Fundação de Dados, o faturamento real do comércio de materiais de construção encolherá 8,1%, em 2022, devolvendo parte dos ganhos dos dois anos anteriores, porém, ainda assim, permanecendo positivo, relativamente à recessão de 2016/2015.

Mas, e as perspectivas para 2023?

No limite, são duas as mais prováveis: a volta de um modelo inspirado no desenvolvimentismo e intervencionismo estatal, tendo-os como indutores dos rumos econômicos – e que culminou na recessão de 2015/2016 –, ou a permanência de um modelo inspirado no liberalismo, com a modernização do estado, novos marcos regulatórios, privatizações e concessões, tendo a iniciativa privada como indutora dos rumos econômicos – e que culminou na recuperação pós-recessão.

A escolha é nossa.

Newton Guimarães - Pesquisador

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