Está claro que a pauta fiscal do Governo Federal tende a piorar neste e nos próximos anos, e as falas ponderadas do Ministro da Fazenda, cada vez mais, darão lugar ao populismo e beligerância do Presidente da República, acompanhados por um legislativo também gastador.
Afinal, para esse último, o exemplo vem de cima.
O ano de 2024 crescerá por inércia, embalado, principalmente, pela conjuntura positiva emprego e renda, balança comercial significativamente superavitária, injeção de recursos na economia por meio de programas de redistribuição de renda, aumento real do salário mínimo e obras e mais obras, não só pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV), mas, também, motivadas pelas eleições municipais.
Mas, assim como já ocorreu no passado recente, gastos acima das receitas (acompanhados pela boa e velha contabilidade criativa, como já vemos nos dribles ao contingenciamento do arcabouço natimorto), com crédito direcionado e subsidiado por bancos públicos e programas setoriais, trazem, após um período de crescimento, desaceleração, e, no caso de não correção de rumo, crise econômica.
Assim, se os ganhos do comércio de materiais de construção seguem brigados neste ano, é mais provável que, a partir de 2025, haja acirramento nas disputas dos fabricantes e atacadistas por espaços nas gôndolas e balcões, como consequência da maior dificuldade de escoamento dos estoques para os consumidores.
Normalmente, as empresas do segmento de materiais de construção, nesse momento, fixam os olhos obsessivamente no caixa, porém, quem sabe, capitalizadas pelo crescimento agregado do quadriênio 2020 a 2023, tenham, também, um olhar mais analítico para o comportamento dos consumidores de materiais de construção: como otimizá-lo com inteligência em períodos de baixo crescimento no consumo.
Ao vender menos, vender melhor.
Temos um número, que não conseguimos validar com pesquisas, obtido em conversas com diversos varejistas de materiais de construção ao longo de anos: aproximadamente 70% do faturamento de todo o comércio de materiais de construção é oriundo de reformas/ampliações/construções residenciais, ao passo que, aproximadamente 30% seriam oriundos dos reparos/manutenções/melhorias pontuais.
Se for assim, aplicado na estimativa Fundação de Dados de sell out Brasil 2023, o mercado de reformas/ampliações/construções residenciais corresponderia a estimados R$146,3 bilhões, ao passo que, o mercado de reparos/manutenções/melhorias pontuais corresponderia a estimados R$62,7 bilhões.
Vamos, então, nos dedicar nos próximos artigos, a entender um pouco mais o comportamento desses R$146,3 bilhões.
Em 2020 iniciamos uma nova série histórica semestral de pesquisas comportamentais do consumo de materiais de construção, com, no mínimo em cada uma, 1.020 respondentes que haviam realizado obras/reformas residenciais no último ano, o que permitiu, por meio de ajustes contínuos, estabelecer aquilo que chamamos de Painel Comportamental de Consumo de Materiais de Construção.
Em todos os semestres, entre inúmeras investigações, perguntamos: “Nesse período de planejamento da obra/reforma (antes de iniciá-la), quais foram os principais meios utilizados para pesquisar e comparar informações dos materiais de construção de maneira geral?”.
Considerando apenas os últimos três anos das pesquisas, aplicadas em novembro de cada ano – Pesquisa 2 | 2021, Pesquisa 2 | 2022 e Pesquisa 2 | 2023 –, na média desses anos, 69,7% dos consumidores utilizaram as próprias Lojas físicas de materiais de construção, imbatíveis no quesito pesquisas e comparações de informações, antes mesmo do início da obra.
Surgem depois, ainda na média e ordem: Sites/e-commerces de materiais de construção, com 42,4%; YouTube, com 35,6%; Sites das empresas fabricantes, com 30,5% e, fechando os cinco principais meios, Instagram, com 26,6%.
No gráfico acima, com os dez principais meios consultados e pesquisados no pré-obra residencial, é possível perceber a relevância histórica desses cinco meios, com naturais oscilações nas passagens anuais.
Ou seja, percebe-se um padrão.
O mais interessante é que esses mesmos cinco meios cobrem 95% dos consumidores que realizaram obras/reformas residenciais. Em outras palavras, 95% desses consumidores ao menos utilizaram um desses meios ou combinaram dois, três, quatro ou cinco deles.
A partir desse ponto, retomaremos o artigo na próxima semana.
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