Há alguns meses, começou a pipocar aqui e ali, uma especulação sobre o efeito das apostas on-line no consumo de produtos e serviços, incluindo materiais de construção.
Especulação pois, ainda não havia pesquisas fidedignas dimensionando o real impacto das apostas esportivas on-line, as bets, ou cassinos on-line, como o jogo do tigrinho.
Porém, a partir de agosto, instituições sérias, como CNC, PwC, Itaú, Santander e Banco Central apresentaram à mídia pesquisas metodologicamente aplicadas, dimensionando os gastos dos consumidores em apostas e cassinos on-line.
Utilizando sempre como fonte O Estado de São Paulo, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), os brasileiros gastaram R$68 bilhões em apostas e cassinos on-line, de junho de 2023 a junho de 2024.
Número maior apresenta o Santander, porém considerando também loterias federais e jogos ilegais, como o jogo do bicho, com gastos entre R$100 bilhões e R$150 bilhões, em 2023.
Interessante que a pesquisa do Itaú é a única a dimensionar que, parte dos gastos retorna à economia no formato de prêmios, nesse caso, 65%.
Desconhecemos alguma outra fonte confiável que dimensiona o que é feito com esses prêmios, inclusive podendo voltar às apostas, inflando, assim, o valor gasto.
Por fim, para fechar esse recorte, segundo o Banco Central do Brasil (BCB), os brasileiros estão gastando, aproximadamente, R$20 bilhões por mês, somente considerando transferências via PIX.
Como vemos, os números são díspares e há muitas informações desencontradas em cada artigo, mas minimamente coerentes em termos de ordem de grandeza, podendo ser possível estimar, elaborando os dados do BCB, que nos primeiros sete meses de 2024 os brasileiros gastaram, aproximadamente, R$140 bilhões em apostas ou cassinos on-line via PIX.
Vamos ficar com esse valor mesmo, já que, segundo a própria Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), apenas 3% das apostas realizadas on-line são feitas por cartão de crédito.
Lembrando ainda que, com a regulamentação, segundo a própria ANJL, no mínimo 85% do valor apostado deve retornar no formato de prêmio.
Vamos ao que nos interessa.
Considerando dados IBGE, quem poderia ter sido mais prejudicado pelas bets, tigrinhos e afins? Bens ou serviços consumidos pelas famílias?
Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), em faturamento real (deflacionado), no acumulado dos comparativos ‘mês anterior’ de janeiro a julho de 2024, o faturamento do Varejo Ampliado Brasil (agregado de 11 áreas de atividades comerciais de bens) cresceu 4,2%, sobre dezembro de 2023.
Já segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), também em faturamento real, no mesmo período comparativo, o faturamento da atividade Serviços Prestados às Famílias (hospedagens, alimentação, atividades culturais, esportivas, recreativas, educativas, estéticas etc.) decresceu 2,4%.

Logo, deduz-se que, se as apostas e cassinos on-line estão roubando recursos financeiros de outros segmentos, na perspectiva de consumo das famílias, o estrago tem sido maior para aquisição de serviços do que bens.
Vamos descer mais um degrau, avaliando na mesma métrica, isoladamente, uma área de atividade comercial predominantemente de bens não duráveis, outra de bens semiduráveis, e outra de bens duráveis.
Sempre em faturamento real e no acumulado dos comparativos “mês anterior” de janeiro a julho de 2024, ainda segundo a PMC, a área de atividade comercial Material de Construção, predominantemente de bens duráveis, cresceu 4,3%; já a área de Hipermercados, Supermercados, Produtos Alimentícios, Bebidas e Fumo, predominantemente de bens não duráveis, cresceu 2,1%, e, por fim, Tecidos, Vestuários e Calçados, predominantemente de bens semiduráveis, cresceu 7,4%, todas sobre dezembro de 2023.

Sempre poderia estar melhor, mas as vendas de bens estão positivas, não sendo justo acusar bets e tigrinhos por determinado resultado comercial negativo.
Obviamente, há impacto no consumo de bens e serviços pelas famílias sim, que pode se estender para o aumento da inadimplência e encarecimento dos empréstimos e crédito, mas, também é possível que, o problema não esteja somente do lado de fora de cada empresa.
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