A conjuntura emprego-renda-crédito-confiança, essencial para as vendas de bens de consumo duráveis, como materiais de construção e móveis, esteve fundamentalmente positiva neste ano.
Resumidamente, em dados mais recentes, a massa salarial real injetou R$23,6 bilhões a mais na economia do que no mesmo trimestre terminado em outubro de 2023 (fonte IBGE); o crédito às pessoas físicas cresceu 14,5%, totalizando R$3,3 trilhões, no comparativo acumulado ano outubro de 2024 com o mesmo período de 2023 (fonte BCB), e, por fim, a confiança do consumidor em novembro atingiu seu maior nível desde janeiro de 2019 (fonte Ibre/FGV).
Dessa maneira, somente devido à essa conjuntura, seria de se esperar que o consumo de materiais de construção no comércio estivesse bombando em todas as Unidades Federativas.
Porém, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), não é bem isso o que está ocorrendo.
Considerando a métrica comparativo acumulado ano outubro de 2024 com acumulado outubro de 2023 sobre a base comparativo acumulado ano outubro de 2023 com acumulado ano outubro de 2022, nominalmente (faturamento percebido/volume de vendas com inflação), o comércio brasileiro cresceu no agregado 5,2% (4,7% em 2024 sobre a base comparativa 0,5% em 2023).
Utilizamos essa métrica para minimizar as distorções do efeito base. O crescimento acumulado no ano vigente somente faria sentido em leitura isolada, caso a base comparativa do ano anterior fosse zero, o que, raramente é o caso. Logo, a leitura comparada proporciona uma informação mais precisa.
Ainda no gráfico acima, o percentual de crescimento nominal Brasil de 5,2% é puxado para cima pela Bahia com 19,8%, e Ceará com 18,8%. Já Pernambuco cresce 4,3%, descolando dos outros dois estados pesquisados na região.
Também são dignos de nota os desempenhos do Rio Grande do Sul com 19,2%, e Paraná com 16,8%. Já Santa Catarina cresce 1,2%, descolando dos outros dois estados pesquisados na região.
No Sudeste, São Paulo e Rio de Janeiro crescem ligeiramente abaixo do resultado nacional, em 4,3% e 5%, respectivamente, e Minas Gerais e Espírito Santo estão discretamente negativos, em -0,7% e -0,8%.
Por fim, em Goiás há crescimento mínimo de 0,4% (talvez, devido à desaceleração do agronegócio), e, no Distrito Federal decréscimo de 11,2%, o pior desempenho da pesquisa do IBGE.
Em uma elaboração Fundação de Dados, tendo como base dados da Secretária de Comunicação Social (SECOM), estima-se que o Bolsa Família injetará no ano de 2024 aproximadamente R$168,6 bilhões na economia (nota técnica do cálculo no rodapé do gráfico).
No Nordeste, região que deverá responder por 45,3% do total desse recurso, estima-se que serão injetados no ano R$76,3 bilhões.
Em relação à Bahia, que receberá do Programa R$19,9 bilhões ano (montante semelhante ao Estado de São Paulo), e onde ocorre o melhor desempenho percentual no comércio de materiais de construção brasileiro (segundo a métrica aqui adotada), a taxa de desemprego, ao término do terceiro trimestre de 2024 estava alta em 9,7%, ante 6,4% nacionalmente.
Tal desempenho positivo das vendas somente pode ser explicado devido aos programas de transferência de renda, premissa válida também para o Ceará, que receberá estimados R$11,8 bilhões ano do Programa, conjugado com taxa de desemprego significativamente melhor, em 6,7%.
Já Pernambuco, cuja taxa de desemprego era a mais elevada do País, em 10,5%, o Programa garantiu um resultado positivo das vendas de materiais de construção, com estimativa de R$12,8 bilhões ano, porém com desempenho significativamente abaixo dos outros dois estados.
Já o expressivo crescimento do Rio Grande do Sul pode ser creditado aos esforços de reconstrução do estado, mas, também, à taxa de desemprego baixa, em 5,1%, e no Paraná, muito provavelmente, à taxa de desemprego de apenas 4%.
No entanto, o crescimento modesto de Santa Catarina não pode ser facilmente explicado, uma vez que, a taxa de desemprego estava em apenas 2,8%. Ou, talvez, pelo valor diminuto do Programa Bolsa Família, estimado em R$1,9 bilhão ano, disparadamente o menor da região (vide gráfico acima).
Nesse quesito, o estado apenas perde para o Distrito Federal, com estimado R$1,4 bilhão ano do Programa e, ainda, com taxa de desemprego elevada, em 8,8%, cujo desempenho do comércio de materiais de construção é o pior desta elaboração.
As perspectivas para o próximo ano estão se deteriorando a céu aberto, com o dólar valorizando a passos largos, cujas perspectivas de estabilização estão acima dos R$6,00, e, já para algumas instituições, caminhando para R$7,00.
Nesse ritmo, conjugado com a perda de confiança na seriedade fiscal do Governo Federal (acabou a boa-vontade do mercado), certamente, a partir de janeiro de 2025, a inflação adquirirá ainda mais força, chegando na ponta e já prejudicando as vendas de bens duráveis, comprometidas também pela alta dos juros, encarecimento do crédito e aumento da já elevada população inadimplente.
Assim, não haverá espaço para novos estímulos fiscais, tampouco para reajustes dos programas sociais e de transferência de renda, que, pelo contrário, poderão ser revisados para identificação de fraudes (o tal do “pente-fino”) paralelamente à corrosão do Programa Bolsa Família pela inflação.
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