Há uma discussão sobre o descolamento entre a realidade efetiva, mensurada por pesquisas setoriais, macroeconômicas e cadastros quantitativos e as pesquisas de confiança, perspectivas econômicas e intenções de consumo.
As pesquisas denominadas como “soft data”, onde entrariam também as qualitativas, possuem um grau de subjetividade tal, tanto nos respondentes como nas análises, que refletiriam um mundo idealizado à parte, que não mais serviria de parâmetro ou antecedente a determinados comportamentos econômicos reais.
Por exemplo, a confiança do consumidor brasileiro encontra-se em nível significativamente baixo, mesmo diante da conjuntura positiva emprego, renda, crédito e programas sociais e de transferência de renda, com a devida repercussão favorável nas vendas de produtos e serviços.
Ou, ainda, no primeiro e segundo ano da pandemia, quando a confiança do consumidor despencou, nunca se consumiu tanto. Teoricamente, confiança alta induziria consumo. Em baixa, reduziria.
Mas, o que isso tem a ver com os pedreiros?
Muito, pois a partir daqui, vamos discorrer sobre uma pesquisa qualitativa, justamente, com eles: Pesquisa Jovens Pedreiros.
Estamos em 2021, no final da segunda onda da pandemia, com o desafio de realizar grupos on-line com um público sabidamente analógico.
Conseguiriam os pedreiros se conectar e permanecer durante duas horas on-line discutindo aspectos de sua vida e profissão?
Não só conseguiram, como nos proporcionaram uma das mais gratificantes experiências em termos de pesquisas de mercado, com um nível de participação e envolvimento significativamente acima de outros perfis.
E, aqui, fechando a trilogia sobre a mão de obra e dando sequência ao artigo Pedreiros, pintores e eletricistas são os profissionais mais contratados pelos consumidores, temos o primeiro insight: eles querem ser escutados.
E se sentem valorizados quando alguém o faz!
Porém, o objetivo da pesquisa era outro: entender quais os tópicos mais sensíveis que deveriam ser incorporados nos cursos, treinamentos e comunicações com os pedreiros.
Então, vamos a algumas percepções.
Os pedreiros utilizam as mídias sociais, porém, como bem definiu um participante, “na moda meia carroça”. Mesmo sabendo que são importantes para dar visibilidade aos seus trabalhos e captarem novos clientes.
Também percebemos a falta de critérios para precificação de seus trabalhos. Na verdade, essa parte foi uma confusão, nos fazendo imaginar o quanto eles poderiam perder ou deixar de ganhar.
Também, embora não tenha sido verbalizado de maneira clara, entendemos – com todo o grau de subjetividade que isso significa – que há uma despreocupação com suas atitudes e comportamentos nas obras residenciais, em relação ao que poderia cativar mais os clientes, e, consequentemente, resultar em novas contratações e recomendações.
Por outro lado, foi claramente verbalizado que não gostam quando as empresas os chamam para cursos e treinamentos para ensinarem a fazer coisas que já sabem. Entendemos, “para malho de uso e recomendações de produtos”.
Porém, gostam quando as empresas os chamam para cursos que ensinem novas técnicas ou possibilidades de trabalho, com potencial de fazê-los ganhar mais dinheiro. Colocação de piso laminado, drywall, marmorato…
Por fim, e mais importante, depois de quase uma hora e meia conversando e estabelecida uma relação de confiança entre todos, surgiu fortemente o desejo de evoluírem profissionalmente, formalizarem seus trabalhos e aprenderem sobre empreendedorismo.
Considerando toda a subjetividade analítica mencionada no início deste artigo, diríamos que um curso ou treinamento para os pedreiros deveria, antes de tudo, cuidar da autoestima desses profissionais, começando em resgatar sua cidadania e incluí-los social e profissionalmente.
Com isso, fechamos a sequência de artigos exatamente onde começamos, com Marginais são os maiores influenciadores do segmento de materiais de construção.
Em tempo, o artigo mencionado no link acima pode ser definido como “hard data”: pesquisas quantitativas e objetivas.
As pessoas interessadas em baixar um resumo desta análise, incluindo fotos dos grupos, poderão clicar aqui. Embora a pesquisa seja de 2021, acreditamos que, essencialmente, nada mudou.
Que pena!
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