A classe média não mora na cobertura e paga o condomínio em dia

Em uma entrevista nesta semana, o ministro da fazenda, Fernando Haddad, informou que a nova medida de ajuste fiscal – leia-se novos impostos – “não afeta a população, está afetando os andares superiores, a cobertura do edifício, que não paga condomínio”.

Nada mais irônico do que essa analogia para o segmento de materiais de construção, uma vez que, uma das medidas arrecadatórias propostas impacta negativamente o funding para as incorporadoras, o LCI (Letras de Crédito Imobiliário), importante para a complementação do financiamento para a produção dos imóveis novos à classe média.

Que, definitivamente, não mora nas coberturas dos edifícios e paga o condomínio em dia.

A taxação em 5%, ante isenção de Imposto de Renda, desestimulará a captação dos recursos financeiros dos investidores, encarecerá a produção dos imóveis, seus valores e o crédito para os compradores.

Contraditoriamente, esse é o mesmo governo que em maio anunciou a faixa 4 do programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), voltada, justamente, à classe média, com juros reduzidos para financiamento de imóveis de até R$ 500.000,00 às famílias com renda mensal de até R$ 12.000,00.

E, esse foi um dos pontos analisados no artigo anterior, Lançamentos de imóveis beneficiarão as indústrias de materiais de construção, no qual projetamos que a construção de unidades residenciais novas do MCMV impactará ainda mais a cadeia de fornecedores, inclusive com potencial de melhorar a qualidade dos materiais fornecidos, devido, justamente, ao MCMV Classe Média.

Assim, seguindo a orientação do artigo anterior, os dados mais recentes do relatório Contas Nacionais Trimestrais (CNT) indicam que, de 2020 a 2024, ou seja, no período da pandemia e pós, no acumulado dos comparativos ano anterior, o PIB Brasil cresceu 11,4%, enquanto o PIB do subsetor Construção (integra, na ótica da oferta, o setor Indústria,) cresceu 22,4%.

Ainda segundo o relatório do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), somente no comparativo do primeiro trimestre de 2025 com o primeiro trimestre de 2024, o PIB Brasil cresceu 2,9%, enquanto o PIB Construção cresceu 3,4%.

Dessa maneira, sob ambas as perspectivas, é notório que o PIB do subsetor induz o PIB brasileiro, influenciado, essencialmente, pela conjuntura positiva das obras de infraestrutura, construções imobiliárias e vendas no comércio de materiais de construção.

Caso a proposta de taxação das LCIs permaneça e seja aprovada pelo Congresso – o que é improvável – , não haverá alterações abruptas nessa tendência, com o subsetor Construção continuando a colaborar diretamente para o crescimento do PIB, e, também, indiretamente, devido à sua capacidade de movimentar inúmeros outros setores e gerar emprego.

De qualquer maneira, tal iniciativa afeta a confiança do mercado e sinaliza que o modelo de crescimento do governo para o subsetor privilegia o funding com recursos públicos, como o MCMV Classe Média, viável graças a uma manobra contábil para utilização de recursos do Fundo Social do Pré-Sal, em detrimento dos recursos privados captados no mercado, como a LCI.

Recomendamos a entrevista do presidente do Secovi-SP, Ely Wertheim, à CNN Money, aprofundando o tema aqui mencionado.

No próximo artigo, analisaremos as vendas e perspectivas para o comércio de materiais de construção, a partir da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) mais recente, com os resultados do primeiro quadrimestre de 2025.

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