Perspectivas para o comércio de materiais de construção em 2025

No artigo anterior, Bolsa Família turbina consumo de materiais de construção no Nordeste, dimensionamos que, atualmente, além da conjuntura emprego-renda-crédito-confiança, há um quinto fator que deve ser considerado para analisar as perspectivas de vendas no comércio de materiais de construção: programas de transferência de renda.

Segundo o próprio Governo Federal, em 2019, último ano antes da nova realidade econômica-social imposta pela pandemia, o Programa Bolsa Família injetou na economia R$29,9 bilhões, em valores correntes.

Cálculos Fundação de Dados estimam que foram injetados em 2024, devido ao mesmo programa, aproximadamente R$168,6 bilhões (vide gráfico com cálculos no artigo anterior).

Assim, considerando a conjuntura emprego-renda-crédito-confiança-transferência de renda, muito provavelmente, o ano de 2025 apresentará desaceleração no consumo de materiais de construção.

Desmembrando essa conjuntura, com as informações das quais dispomos hoje, podemos considerar as seguintes perspectivas:

Emprego: segundo o IBGE, embora nacionalmente tenhamos encerrado 2024 em sua plenitude, por volta de 6% de taxa de desocupação, havia importantes unidades federativas, como Bahia e Pernambuco, cujas taxas estavam na faixa de 10%, ou Distrito Federal e Rio de Janeiro, cujas taxas estavam na faixa de 8,5%. É provável que a taxa de desemprego passe para algo mais próximo de 7%, com aumento das discrepâncias regionais.

Renda: além do pleno emprego nacional, houve ganhos reais (acima da inflação) no rendimento médio das pessoas ocupadas (trabalhando formal ou informalmente), superior a 3%, o que acarretou um significativo aumento da massa salarial (mais pessoas trabalhando multiplicadas pelos ganhos médios reais), beirando trimestralmente R$25 bilhões injetados na economia a mais, do que no mesmo trimestre do ano anterior. É provável que com a desaceleração do mercado de trabalho conjugada com a inflação, tais ganhos sejam reduzidos ou equalizados.

Crédito: segundo o Banco Central, os valores de concessão de crédito às pessoas jurídicas e físicas cresceram cerca de 15% em 2024, chegando a impressionantes R$6,5 trilhões. Obviamente, com o encarecimento do crédito, aumento do endividamento das empresas e famílias (incluindo a inadimplência, já elevada), esse crescimento seja menor em 2025, reduzindo a liquidez para investimentos e consumo, principalmente de bens duráveis.

Confiança: de maneira geral, segundo a Fundação Getúlio Vargas, a confiança do consumidor terminou 2024 abaixo do término de 2023, principalmente nos consumidores de maior poder aquisitivo. Dado o atual cenário de incertezas é provável que a confiança em 2025 siga, mesmo que discretamente, abaixo dos mesmos períodos de 2024, tornando os consumidores menos propensos às compras de bens, principalmente demandantes de crédito, como materiais de construção e móveis.

Programas de Transferência de Renda: embora o Governo Federal esteja arrecadando como se não houvesse amanhã, transferindo recursos do setor privado para o público, ainda assim, a contínua e vertiginosa piora da relação dívida/PIB (o arcabouço fiscal já não é confiável como parâmetro), que no início do governo Lula 3 estava em 71,3%, e ao final de 2024 já estava em 77,7% – números que deixariam Dilma Rousseff vermelha de inveja -, não haverá espaço, salvo a inesgotável criatividade contábil desse governo, para aumento dos gastos em programas de transferências de renda, que ainda serão corroídos pela inflação.

Muito provavelmente, o comércio de materiais de construção brasileiro cresceu, em 2024, algo em torno de 5%, em termos reais e nominais (sim, ambos ficaram em níveis muito próximos devido à recuperação dos preços em 2024, depois de um período de ganhos reais acima dos nominais).

Também é muito provável que, em 2025, haja uma desaceleração no crescimento real, certamente significativamente abaixo de 5%, com maior crescimento nominal, devido à retomada da inflação.

No entanto, há elementos de elevada incerteza, como a heterodoxia econômica do governo brasileiro e arroubos do novo governo americano, que tornam suspeitos quaisquer exercícios de cenário macro para o consumo de materiais de construção.

Ponderações à parte, diante de muitos ruídos e poucos sinais, prudência é a palavra de ordem em 2025.

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