Desaceleração das vendas de materiais de construção não significa retração

A ata da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) menciona que “os indicadores mais recentes de comércio, serviços e indústria sugerem um crescimento mais moderado […] Dadas as defasagens inerentes aos mecanismos de transmissão da política monetária, espera-se que tais efeitos se aprofundem nos próximos trimestres.”

Sugerimos a leitura completa da ata para quem quiser se aprofundar sobre as perspectivas econômicas.

Aqui, aprofundaremos o que diz respeito às nossas pesquisas e área de conhecimento, fechando o raciocínio, justamente, considerando o trecho mencionado do Copom.

A mais recente Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) indicou uma desaceleração das vendas do comércio de bens, e, especificamente, das vendas de materiais de construção, móveis e eletrodomésticos.

Sempre em volume de vendas (faturamento real/nominal deflacionado), a área de atividade comercial Móveis e Eletrodomésticos (tipo Magazine Luisa, Casas Bahia e formatos similares), no comparativo abril com março decresceu 0,3%, ante -0,6% no comparativo março com fevereiro, portanto, acelerando, ainda que mantendo um patamar negativo.

Já a área de atividade comercial Material de Construção, no comparativo abril com março decresceu 0,4%, ante  crescimento de 0,5% no comparativo março com fevereiro, portanto, desacelerando e passando para um patamar negativo.

Por fim, o Varejo Ampliado (agregado de 11 áreas de atividades comerciais de bens), no comparativo abril com março decresceu 1,9%, ante crescimento de 1,7% no comparativo março com fevereiro, portanto, desacelerando e também passando para um patamar negativo.

Embora o comércio Material de Construção e o Varejo Ampliado tenham desacelerado, ambos estão positivos no acumulado dos comparativos “mês anterior” do primeiro quadrimestre de 2025, em 5,3% e 2,6%, respectivamente. Já o comércio Móveis e Eletrodomésticos, no mesmo período, segue negativo em 1,5%.

Alterando a métrica para o comparativo últimos 12 meses versus últimos 12 meses anteriores, as vendas de móveis no comércio Móveis e Eletrodomésticos desaceleraram, passando de 5,7% nos 12 meses até março, para 4,4% nos 12 meses até abril.

Já as vendas de eletrodomésticos no comércio Móveis e Eletrodomésticos também desaceleraram, após quatro meses consecutivos de aceleração, passando de 5,4% para 5%.

Por fim, as vendas de materiais de construção também desaceleraram, após 11 meses consecutivos de aceleração, passando de 6,8% para 5,2%.

Baixar gráficos: artigo, vendas e inflação artigos lar

É notório que, embora as linhas de tendências tenham embicado para baixo, ainda assim, os desempenhos permaneçam em patamares positivos.

Estatisticamente, oscilações pontuais são normais no decorrer do ano, ainda mais, considerando o atual conflito econômico, com a política monetária do Banco Central buscando desacelerar o consumo – visando controlar a inflação –, e o Governo Federal buscando acelerar o consumo, por meio de estímulos fiscais e creditícios, como o novo crédito consignado privado.

E, embora os efeitos contracionistas da alta taxa básica de juros serão cada vez mais sentidos no decorrer dos meses, por outro lado, tais estímulos neutralizarão parte desses efeitos, acrescidos ainda pelo mercado de trabalho aquecido e pagamento de precatórios (dívidas públicas) a partir de julho, em R$70,7 bilhões, com parte desse valor direcionado às pessoas físicas e consumo.

Para quem está na ponta, nos caixas do comércio, essas oscilações mensais podem passar uma mensagem catastrófica, afinal somos muito mais sensíveis às perdas do que aos ganhos, como já comprovado pelos psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky.

Mas, essencialmente, o comércio de materiais de construção oscila e desacelera, mas não retrai nos comparativos de períodos mais longos.

Este artigo foi adaptado do Informe Executivo Semanal #273 desta segunda-feira e conversa com o artigo anterior A classe média não mora na cobertura e paga o condomínio em dia.

No próximo artigo, iniciaremos uma série de análises dos novos dados do Painel Comportamental de Consumo de Materiais de Construção 2025, abrindo informações inéditas sobre impermeabilização em obras residenciais: qual a incidência no total das obras? Quais os canais de compra? Quais os principais ambientes impermeabilizados?

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