Recentemente, o presidente do Banco Central do Brasil (BCB), Roberto Campos Neto, ao participar do evento Dois anos de autonomia do Banco Central: lições para o futuro, explicou, como sempre didaticamente, as razões técnicas da atual política de juros da instituição, assim como, as perspectivas para os próximos meses.
Nessa explanação, relativamente à elevação dos preços do núcleo de serviços, chamou atenção sua menção de que “uma coisa que a gente tem discutido entre os bancos centrais, é essa dinâmica de consumo entre serviços e bens; parece haver uma coisa mais estrutural, pode ser comportamental, pode ser estoque de poupança, mas parece que as pessoas querem ter mais experiências e menos bens; então, eu troco comprar uma coisa nova, uma coisa cara, por fazer uma viagem, por ter uma experiência… Pode ser um reflexo da pandemia, pode ser uma realidade nova, mas a gente está vendo isso, inclusive, em várias conversas com outros bancos centrais, eles olham os dados locais e chegam a essa conclusão; então isso mostra uma nova dinâmica do setor de serviços, no Brasil não é diferente, mas a gente consegue ver isso onde tem mais dados, microdados, nos Estados Unidos e Europa.” (16:50).
Assim, muito possivelmente, o refluxo do “fique em casa” chama-se “saia de casa”.
Dadas as condições macroeconômicas, as quais não controlamos, restam as condições microeconômicas, aspectos comportamentais para consumo de materiais de construção, sobre os quais exercemos significativo controle, por meio de ações mercadológicas ou empresariais.
Segundo a Pesquisa 1 | 2022 da Fundação de Dados, na qual entrevistamos 1.022 consumidores de materiais de construção, que haviam realizado reformas/obras residenciais, predominantemente, entre maio de 2021 e abril de 2022, 49,1% dos entrevistados disseram que fizeram uma grande compra inicial, e o resto foi fracionado em pequenas compras em vários tipos de lojas. Já, 31,5% disseram que compraram tudo o que precisavam de uma só vez. Por fim, 19,5% disseram que compraram tudo de maneira fracionada, em vários tipos de lojas.
Quanto ao primeiro perfil, o predominante com 49,1%; daqueles que fizeram uma grande compra inicial e várias compras fracionadas depois, é quase certo que essa compra inicial foi realizada em Home centers/Lojas grandes, e, o restante, principalmente fracionado em lojas próximas à obra, Lojas de bairro, ou ainda, Lojas especializadas (tintas, elétrico, pisos e revestimentos etc.).
O segundo perfil, com 31,5%; daqueles que fizeram apenas uma grande compra inicial, é quase certo também, que essa compra foi realizada em Home centers/Lojas grandes. Porém duvidamos que, mesmo em menor grau do que no perfil anterior, esse consumidor não tenha necessitado do apoio das Lojas de bairro, para eventuais complementações.
Por fim, o terceiro perfil, com 19,5%; daqueles que fizeram apenas compras de maneira fracionada, é quase certo que essas compras foram feitas, principalmente, em Lojas de bairro e Lojas especializadas.
Assim, podemos afirmar que ao somarmos o primeiro e o segundo perfil, 80,6% dos consumidores que realizaram reformas/obras começaram suas compras em Home centers/Lojas grandes, para depois continuarem se abastecendo, principalmente, em Lojas de bairro e Lojas especializadas.
Se, de fato, como desconfiam os bancos centrais, o mundo está passando por bruscas alterações comportamentais, redirecionando gastos com bens para gastos com experiências e serviços, no segmento de materiais de construção os grandes varejistas possuem um papel fundamental, não só para promover uma experiência gratificante na compra inicial, como para sensibilizar os consumidores a investirem ainda mais nas obras/reformas, consequentemente, alavancando as compras complementares em outros tipos de canais.
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